Cirurgia plástica é incentivo para parar de fumar


sexta-feira agosto 22, 2008

Lisa Morrison sempre achou que tinha uma saúde de ferro. Ela era adepta de alimentos orgânicos, exercícios regulares e meditação. A única falha em sua existência quase exemplar era o maço de cigarros que fumava diariamente desde os 18 anos.

Quando Morrison, hoje com 50 anos, se consultou com o doutor Vincent Giampapa, um cirurgião plástico credenciado de Montclair, Nova Jersey, ela já havia tentado de tudo para largar o fumo em nome de sua saúde. “Acupuntura, adesivos de nicotina, hipnose,” ela disse. “Nada funcionou.”

Quer dizer, nada até 2007, quando Giampapa disse à paciente que ela teria que se livrar do amado cigarro se quisesse mesmo um lifting de pescoço e pálpebra dos olhos. “O médico disse seriamente que se eu quisesse ter uma boa recuperação, teria que parar de fumar,” Morrison conta. “Quando o assunto é o seu rosto, você fica motivada.”

A cada ano, entre 40 e 45% dos 45 milhões de fumantes nos EUA tentam largar o vício, segundo o doutor Michael Fiore, diretor do Centro de Pesquisa e Intervenção do Tabaco da Universidade de Wisconsin, em Madison. Apenas 5% dos fumantes abandona o vício para sempre.

Mas atualmente, um número crescente de candidatos à cirurgia plástica está encontrando motivação para abandonar o cigarro por outras razões: a vaidade e a ameaça de não conseguir um cobiçado rosto, barriga ou seios novos.

“Quando alguém escuta um clínico geral ou cardiologista dizer que fumar faz mal, aumenta o risco de câncer de pulmão e prejudica o coração, as pessoas tendem a deixar o conselho de lado se sentem que estão bem,” disse o doutor Alan Gold, presidente da Sociedade Americana de Cirurgia Plástica e Estética. “Mas se elas já têm um problema médico e não vão ao hospital só para um check-up de rotina, a tendência de dar ouvidos ao conselho é maior.

“Com cirurgia plástica, é um pouco diferente. As pessoas desejam fazer a cirurgia plástica e esse é o seu objetivo principal quando chegam aqui. É algo que elas querem muito.”

Nos últimos cinco a 10 anos, muitos cirurgiões plásticos e cosméticos se recusaram a operar pacientes fumantes, especialmente aqueles que desejam cirurgias de lifting facial, abdominoplastia ou lifting de seios ¿ procedimentos em que a pele é movida.

“A nicotina faz com que os vasos sanguíneos se contraiam ou se comprimam, reduzindo o fluxo de sangue da pele,” disse o doutor Darshan Shah, cirurgião plástico de Bakersfield, Califórnia. Complicações pós-operatórias incluem má cicatrização, maior risco de infecção, hematomas que demoram a desaparecer e cicatrizes vermelhas e salientes.

“Há 25 anos, talvez fosse mais aceitável um paciente passar por uma cirurgia sem deixar de fumar,” disse o doutor Patrick McMenamin, presidente eleito da Associação Americana de Cirurgia Cosmética. “Hoje em dia, se um médico sabe que o paciente estava fumando no período em que passou por uma cirurgia flap, afirmou, se referindo a cirurgias em que a pele é movida, “muitos de nós considerariam isso negligência médica.”

Cirurgiões plásticos e cosméticos recomendam que se deixe de fumar pelo menos duas semanas antes e duas depois da cirurgia, embora alguns exijam um período ainda maior como segurança extra. (Fumantes também correm risco de infecção e complicações respiratórias durante a anestesia).

O doutor Jeffrey Rosenthal, chefe de cirurgia plástica do Bridgeport Hospital em Connecticut, recomenda um período de seis semanas sem fumar antes de uma cirurgia de pálpebras ou aumento de seios, e um período de seis meses a um ano antes de uma cirurgia de abdominoplastia.

Os médicos também desenvolvem planos para os pacientes deixarem de fumar, prescrevendo medicamentos como Wellbutrin ou Chantix e recomendando hipnose e grupos de apoio.

“Por que investir tanto dinheiro em uma cirurgia cosmética se o paciente não colabora e não faz a sua parte para garantir os melhores resultados?” disse a doutora Shirley Madhere, cirurgiã plástica de Manhattan.

Nancy Irwin, psicóloga e hipnoterapeuta de Los Angeles, disse que entre 5 e 10% de sua clientela vem por indicação de cirurgiões plásticos. “Elas não se importam em morrer por causa do cigarro,” ela afirma sobre suas pacientes, “mas se o tabagismo atrapalha sua plástica de seios, aí sim é um problema. Colocam a imagem antes da saúde,” ela disse.

Cirurgiões plásticos citam algumas razões pelas quais, mais do que nunca, recomenda-se ao paciente que ele pare de fumar. Nos anos recentes, com o crescente aumento de operações – cerca de 11,7 milhões de procedimentos cosméticos cirúrgicos e não-cirúrgicos foram realizados nos EUA em 2007, em comparação a três milhões em 1997, segundo a Sociedade Americana de Cirurgia Plástica e Estética – mais pessoas (e fumantes) estão entrando na faca.

Como a maioria das cirurgias plásticas é eletiva, cirurgiões plásticos têm o tempo a seu favor, diferente de um cirurgião cardíaco, por exemplo. “Você pode convencer os pacientes a parar de fumar, mas não há como passar um mês fazendo isso quando se está tentando salvar a vida de alguém que precisa de uma cirurgia do coração,” disse o doutor Roger Friedenthal, cirurgião plástico credenciado de São Francisco, que se recusa a operar fumantes.