Crianças com hipertensão, um problema cada vez mais comum


quarta-feira março 30, 2011

Problemas com a hipertensão arterial podem, no futuro, levar ao desenvolvimento de doença coronariana e doença renal crônica. Atualmente, cerca de 60% dos recursos do Sistema Único de Saúde (SUS) são gastos com o tratamento de doenças ligadas ou decorrentes da hipertensão, tais como diabetes mellitus e doença coronariana, explica Maria Cristina de Andrade, médica pediatra da UNIFESP e nefrologista das Sociedades Brasileira de Pediatria e Brasileira de Nefrologia. Identificar a hipertensão arterial o mais cedo possível e controlar os fatores de risco é a melhor maneira de tentar inverter esse quadro.


Tipos de hipertensão


A hipertensão pode ser classificada em dois tipos, basicamente: a primária ou essencial – sem causa conhecida – e a secundária – onde se conhece o que a provocou. “As crianças apresentam maior propensão a desenvolver a hipertensão secundária, ou seja, aquela causada por uma condição de saúde específica, como um problema renal, endócrino ou cardíaco. Já nos adolescentes, a hipertensão primária é mais comum”, diz Andrade.


Entretanto, o aumento da incidência de obesidade no público infantil – 6 milhões de jovens brasileiros tem problemas com o excesso de peso – contribui para a instalação de diversas alterações de saúde, entre elas a hipertensão. Dados estatísticos (IBGE 2010) revelam que 34,8% das meninas entre 5 e 9 anos apresentam sobrepeso.


Muito sódio e gordura e pouca atividade física


Tanto a hipertensão quanto a obesidade infantil poderiam ser controladas se os fatores de risco associados recebessem maior atenção dos pais e dos professores nas escolas (ambiente onde as crianças, muitas vezes, passam a maior parte do dia).


O ideal é procurar diminuir a ingestão de comidas calóricas e muito salgadas – as chamadas junk foods, exageradas em sabor e riquíssimas em calorias vazias –, aumentar o tempo de atividades físicas e comer mais frutas e verduras (ao menos cinco porções diárias). “Para os adolescentes, evitar bebidas alcoólicas e o hábito tabagista, também é importante”, lembra Andrade.


Outro dado importante apontado pela especialista é estar atento aos rótulos dos alimentos industrializados – especialmente os biscoitos e salgadinhos – e saber o quanto de sódio e gordura se ingerem com esses produtos. A OMS recomenda ingestão de no máximo 2g de gordura trans por dia e as diretrizes da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA-2006) determinam a indicação da presença de gordura trans no rótulo. E é preciso ter atenção extra na hora de consultar esses rótulos: a lei desobriga a declaração de menos de 2 mg de gordura trans por 25 g do produto.


“No caso de crianças e adolescentes que, por estarem em fase de crescimento, podem consumir esses produtos em uma grande quantidade, essa rotulagem pode levar a uma ideia errônea de que eles estão ingerindo a quantidade adequada de gordura diária”, explica Andrade.


Importante lembrar, ainda segundo Andrade, que mesmo os adolescentes que acham que estão em dia com as atividades físicas podem estar correndo riscos. “Esses adolescentes, especialmente os que optam por exercícios de musculação, podem acabar consumindo uma quantidade extra de proteínas para adquirirem massa muscular de maneira rápida. Isso também pode sobrecarregar os rins, quando associado ao excesso de gordura e sódio.”


E é bom salientar: para controlar a hipertensão, recomendam-se exercícios, mas apenas os aeróbios. Exercícios anaeróbios – como os envolvendo treinos de sobrecarga, a exemplo da musculação – devem ser evitados caso haja alguma suspeita de pressão alta sem controle médico.


Hipertensão não tem sintomas claros


A hipertensão é um problema assintomático na grande maioria das vezes (exceção quando o problema tem causa endócrina, por exemplo). Isso não quer dizer que não cause problemas: rins, coração e olhos são os órgãos que mais sofrem com a pressão alta. O ideal, portanto, é que as crianças e os adolescentes sejam acompanhados constantemente e que os pais fiquem atentos aos conselhos dos médicos responsáveis.


“Além da mensuração rotineira da pressão arterial a partir dos 3 anos de idade, o que se recomenda é o monitoramento para a dislipidemia, ou seja, variações no colesterol bom para menos) e do colesterol ruim e dos triglicérides (para mais). Isso deve ser feito a partir dos 10 anos de idade em todas as crianças, e a partir dos 2 anos de idade, se houver história familiar de dislipedemia ou doença cardio-vascular” diz Andrade.


Alimentação adequada, exercícios e menos sal e gorduras


O que os pais devem fazer é ensinar os filhos a se alimentar de maneira adequada, explicando os problemas associados a uma má alimentação e os benefícios de certos alimentos e cobrar para que as escolas também proporcionem um ambiente favorável aos hábitos saudáveis.


“Deve-se também controlar o sal, evitando-se os alimentos industrializados e a adição do sal nos alimentos já prontos (sal da mesa). Os refrigerantes, por exemplo, contem sódio (especialmente os diet), sendo então mais aconselhável a ingestão de sucos, de preferência naturais. Gorduras precisam ser controladas, mas há gorduras ‘do bem’, como as encontradas nos azeites, peixes de águas frias e amêndoas, que ajudam na regulação do colesterol”, observa Andrade.


Além disso, diz a especialista, deve-se propiciar aos filhos atividades físicas ou esportivas diariamente (passeios familiares que incluam caminhadas, bicicleta, natação ou outras atividades recreativas), ao menos 30 a 40 minutos por dia. Todos estes fatores podem contribuir para uma vida mais saudável na infância e juventude proporcionando assim menos complicações da saúde na idade adulta.