Exames em excesso não são úteis à nossa saúde


quinta-feira setembro 20, 2012

Recentemente, uma campanha envolvendo nove sociedades médicas americanas nos chamou atenção para um problema que nos preocupa há muito tempo. O excesso de exames laboratoriais aos quais nossos pacientes são submetidos diariamente. A mudança representa o reconhecimento por parte dos médicos de que muitos testes e procedimentos são realizados aleatoriamente, onerando os serviços e planos de saúde, sem prestar nenhuma ajuda ao paciente. Na ocasião, foi lançada uma lista de 45 testes laboratoriais que somente deveriam ser solicitados frente a evidências clínicas contundentes.

Nos Estados Unidos o recado foi dirigido também aos pacientes para que eles alertem seus médicos. No Brasil, é muito comum os pacientes ficarem felizes diante da solicitação de uma lista infindável de exames. Eles confundem essa medida como sendo de maior segurança e acreditam que dessa forma nada passará despercebido e eles terão um tratamento mais eficaz e abrangente. O que eles não sabem é que esse exagero de exames não resultará em mais saúde ou longevidade. Alimentação saudável, atividade física e parar de fumar são mais eficientes do que todos esses procedimentos laboratoriais preventivos.

A maioria dos nossos pacientes passa por vários médicos, pois seus convênios lhes permitem. Todos eles pedem exames, mesmo que o paciente tenha feito muitos deles há pouco tempo. Esse exagero em exames não tem se provado benéfico, além de trazer alguns problemas devido à ocorrência de resultados falso-positivos, que por sua vez obrigam a realização de mais exames.

Outro grande equívoco dos nossos pacientes é a ideia de que eles pagam seus convênios mensalmente e devem usufruir das várias possibilidades de exames e tratamentos disponíveis, mesmo sem evidências de que estão doentes. O que eles não entendem é que seus custos tendem a se elevar mais e mais e que o ideal seria não precisar utilizar apenas para justificar o investimento.

A campanha americana foi chamada de “choosing wisely” ou “escolhendo sabiamente” e faz uma avaliação negativa a cerca da solicitação frequente e precoce da densitometria óssea, dos marcadores sanguíneos de câncer, da tomografia computadorizada na suspeita de sinusite, do Papanicolau em mulheres abaixo de 21 anos e do eletrocardiograma e teste de esforço para a pesquisa de problemas cardíacos em pessoas sem sintomas sugestivos.

Esse assunto geralmente causa discussões acaloradas, pois vamos encontrar opiniões distintas, inclusive dos que alertam para um cerceamento por parte dos convênios sobre a decisão médica e o direito do paciente. Nossa posição limita-se a levantar a discussão a cerca da real necessidade de se rever a realização de exames em excesso, pois isso beneficiará nosso paciente, tanto em relação à sua saúde quanto aos seus gastos para mantê-la em ordem.