Os 10 mitos sobre a osteoporose


sexta-feira maio 16, 2008

A osteoporose tem avançado em todo o mundo. É o preço pago pelo aumento da expectativa de vida das pessoas e pelos hábitos diários. As facilidades proporcionadas pelo mundo moderno afastaram o homem das atividades físicas, tornando-o sedentário. Nas antigas sociedades, a atividade campestre exigia uma força braçal que hoje não encontramos nas atividades cotidianas. A alimentação e a ingestão de bebida alcoólica em demasia, além do tabagismo, também têm contruído para o avanço da doença.


Entretato, na minha opinião, nada contribui mais para a expansão da doença do que a falta de informação sobre as formas de prevenção. Há, a respeito da osteoporose, muitos mitos que contribuem para afastar as pessoas da prevenção. Enumero 10 principais mitos para que a informação correta seja um instrumento importante para barrar o avanço da osteoporose.



1. A osteoporose é uma doença inevitável
A melhor forma de se evitar a osteoporose, ou as complicações resultantes, é a prevenção, que pode ser obtida por meio da identificação de fatores de risco via exame de densidade óssea, segundo normas da Organização Mundial da Saúde (OMS), de 1994. Trata-se de um teste simples e não-invasivo, que avalia a medida da densidade óssea. Uma dieta rica em cálcio é um pré-requisito no combate à osteoporose. Ou seja, é de vital importância consumir leite e seus derivados (com baixo teor de gordura); vegetais como brócoli, couve e folhas verdes; salmão e sardinha enlatada (com espinha) e tofu. Há médicos que prescrevem, ainda, uma suplementação com cálcio como, por exemplo, o carbonato de cálcio ou citrato de cálcio. Mas, para que o cálcio seja adequadamente absorvido, o organismo necessita de quantidades suficientes de vitamina D. As principais fontes dessa vitamina são o leite e produtos lácteos enriquecidos com vitamina D, breve exposição diária ao sol, óleo de fígado de peixes diversos, sardinha, arenque, salmão e atum. Para a prevenção são indicados exercícios com suporte de peso (mesmo que o peso seja o seu próprio corpo) tais como caminhadas, exercícios aeróbicos, tênis e jogging.

2. Apenas mulheres idosas desenvolvem a osteoporose
Há pouca divulgação sobre o tema, mas 20% das pessoas afetadas pela osteoporose no mundo são homens, somando um total de 14 milhões de portadores. A expectativa é que em 2010 o número de portadores homens chegue a 17 milhões e, em 2020, a 20 milhões.

Especialistas do Programa de Osteoporose Masculina do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia conduziram uma pesquisa com 712 homens para avaliar a incidência da doença entre homens com mais de 50 anos. Os resultados comprovaram o avanço da osteoporose masculina. Entre homens com 80 anos ou mais, o número de portadores da doença chega a 36,4%, enquanto o grupo com idade entre 50 e 59 anos apresentou índice de 11,6%. A análise da densidade óssea do quadril mostra incidência de 12% — o dobro do valor estimado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) que é de 3% a 6%. Há prevalência da doença entre homens de cor branca (22,4%), sendo que a taxa em mulatos é de 16,8%, e em negros, 11,4%.

É importante salientar que a osteoporose masculina não é um fenômeno brasileiro. No Canadá, por exemplo, 11% dos homens podem sofrer fraturas em conseqüência da doença, enquanto entre as mulheres o índice é de 22%. Estudos epidemiológicos mundiais estimam que um em cada cinco homens acima de 50 anos terá uma fratura em decorrência da doença ao longo da vida. Enquanto entre as mulheres a doença tem origem hormonal, surgindo no período da menopausa, entre os homens a osteoporose surge com o processo de envelhecimento (andropausa) e é potencializada pelo tabagismo, alcoolismo, inatividade física, baixa ingestão de cálcio e histórico familiar. Em resumo, o processo de envelhecimento tem equilibrado a incidência da doença entre os sexos.

3. Apenas mulheres de raça branca desenvolvem a osteoporose
Mais um mito que é fruto da desinformação. Há estimativas de que cerca de 52% das mulheres asiáticas com mais de 50 anos tenham osteoporose.

4. A osteoporose não atinge um grande número de pessoas
Cerca de 75 milhões de pessoas têm osteoporose na Europa, EUA e Japão. No Brasil, estima-se que haja cerca de 15 milhões de pessoas com osteoporose, marca acentuada pelo aumento da expectativa de vida do brasileiro. Nos Estados Unidos, ocorrem anualmente mais de 1,5 milhão de fraturas devido à osteoporose. Metade dos portadores que sobrevivem a fratura do colo do fêmur passa por um tratamento de longo prazo com custos estimados entre US$ 12,5 bilhões e US$ 15 bilhões anuais.

5. A osteoporose não mata
As fraturas que ocorrem pela osteoporose deixam um rastro de óbitos pelo mundo. As fraturas do colo do fêmur são as mais graves, chegando a ser fatais em até 20% dos casos.

6. Há sintomas da osteoporose
Doença que leva ao enfraquecimento dos ossos, tornando-os vulneráveis aos pequenos traumas, a osteoporose é uma patologia assintomática, ou seja, sem sintomas, lenta e progressiva. O caráter silencioso faz com que não seja diagnosticada até que ocorram as fraturas, principalmente nos ossos do punho, colo de úmero, quadril e coluna vertebral. Entre os principais indícios da osteoporose destacam-se a dor de coluna vertebral prolongada, associada à diminuição da altura do paciente devido a microfraturas em vértebras, e o desevolvimento de uma cifose, ou seja, corcunda.

7. Não há tratamento para a osteoporose
O surgimento de uma nova classe de medicamentos tem apresentado retornos positivos para pacientes com osteoporose. Resultados do estudo Multiple Outcomes of Raloxifene Evaluation (MORE), anunciados pelo American College of Rheumatology mostram que a substância raloxifeno reduz significativamente o risco sintomático de fraturas vertebrais em até 68%, após um ano de tratamento. Um outro medicamento lançado recentemente tem como base o alendronato sódico e calecalciferol, ou seja, é rico em vitamina D — componente fundamental para o desenvolvimento de ossos fortes e para a prevenção à osteoporose. Há estudos que mostram a vitamina D aliada ao cálcio ajuda a reduzir a perda óssea. A vitamina D é um componente que auxilia na absorção do cálcio no intestino. Uma nova vacina também promete ser uma arma eficiente na luta contra a osteoporose. Apresentada no 23º encontro anual da American Society for Bone and Mineral Research, a nova vacina atua no combate à perda de tecido ósseo. Na prática, doenças como a osteoporose se caracterizam pela perda de tecido ósseo — ocasionada por um descontrole no organismo que passa a produzir quantidades excessivas de Rankl, uma proteína que acelera a reabsorção óssea. A vacina atua como um estimulante do sistema imunológico, pois ajuda a destruir o excesso de Rankl, ou seja, induz a produção de anticorpos capazes de destruir a proteína.

8. Bebo muito leite, portanto não terei osteoporose
O cálcio, presente no leite, é um dos principais componentes da estrutura óssea, mas não é o único nutriente importante para a formação do osso. A ingestão de cálcio deve ser acompanhada de exercício físico e uma alimentação balanceada cuidada. Além disso, o fato de ingerir o cálcio presente no leite não significa que a pessoa absorve integralmente já que há alimentos que impedem a absorção do cálcio.

9. Cola-Cola e demais refrigerantes causam osteoporose
Somente em excesso a cafeína — presente em refrigerantes e café —, pode causar a osteoporose.

10. Minha mãe tem osteoporose e eu também terei
Embora o fator genético seja importante, no caso da osteoporose não é determinante. A alimentação e o estilo de vida, que diferem muito entre membros da mesma família, são fatores que devem ser levados em consideração.

(*) Por Dr. Fabio Ravaglia

Dr. Fabio Ravaglia é ortopedista, formado pela Unifesp, com especialização em Ortopedia Reumatológica no Royal College of Surgeons of England, é presidente
da Arthros Clínica Ortopédica (www.arthrosclinica.com.br), membro titular da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT) e da presidente
da ONG Instituto Ortopedia & Saúde